Era dezembro de 1997 e algumas das questões do vestibular que participava, da universidade em que viria me graduar, faziam referência ao
Sermão da Sexagésima, do padre
Antonio Vieira, pregado na Capela Real de Lisboa no ano de 1655. Vejamos alguns trechos:
Será porventura o não fazer fruto hoje a palavra de Deus, pela circunstância da pessoa? Será por que antigamente os pregadores eram santos, eram varões apostólicos e exemplares, e hoje os pregadores são eu, e outros como eu? — Boa razão é esta. A definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que semeia. Reparai. Não diz Cristo: saiu a semear o semeador, senão, saiu a semear o que semeia. (...) Entre o semeador e o que semeia há muita diferença: uma coisa é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador, e outra o que semeia; uma coisa é o pregador e outra o que prega. O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o Mundo.
[VIEIRA, Antônio (Pe). Os Sermões. Seleção de Jamil Almansur Haddad. São Paulo: Melhoramentos, 1963, p.80.]