quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Os gays na periferia

Vimos há pouco nos noticiários a agressão sofrida pelo estudante de Direito da USP, André Cardoso Gomes Baliera, no bairro de Pinheiros em São Paulo. Segundo um dos agressores, ele apanhou "de besta" e porque não seguiu seu caminho. Este é mais um caso de intolerância e homofobia. A irmã do acusado, em entrevista, afirmou que seu irmão não é violento e que estava no lugar errado na hora errada e ainda completa: "o menino nem morreu". Como se o ato praticado em si não fosse violento ao extremo e devesse ser levado em conta apenas se a vítima morresse.

A vítima é instruída e estuda em uma das melhores universidades da América Latina.

Muitos gays moram nas periferias das grandes cidades e não têm um nível de estudo elevado. Suas baixas condições financeiras não lhes dão a independência necessária. Entre o próprio meio gay tais pessoas são muitas das vezes tratadas como "bichinhas pão-com-ovo" num outro tipo de preconceito - o social. Estes tais sofrem agressões principalmente dentro da própria casa e ficam reféns de uma situação humilhante por não possuírem condições financeiras suficientes que lhes deem a independência.

Aparece nos noticiários alguns casos de agressões contra homossexuais nas periferias, mas em número menor, como o caso em São Paulo do taxista que matou o jovem estudante Tarso César Carmona e feriu seu amigo, apenas porque as vítimas deram sinal para que o taxista parasse.

Tarso Carmona (esquerda) e André Baliera (direita)

Mas a maioria dos casos e agressões não são noticiados. São agressões diárias que acontecem na escola, entre os colegas e família, no bairro onde vivem. Geralmente quando a pessoa se defende contra as agressões é vista como rebelde, malcriada e escandalosa. O agressor espera passividade da vítima diante das agressões.

Muitos gays da periferia não revelam sua orientação sexual pelas dificuldades que se apresentarão. E às vezes até negam dada a dificuldade, preconceitos e agressões. Chegam até a buscar uma mudança radical em sua vida com relação à sexualidade. Geralmente estas atitudes não são duradouras e com o passar do tempo retomam a sua condição natural ou no máximo mantêm sufocados seus desejos, renegando sua natureza e vivendo uma vida de fantasias.

Quanto maior o nível de estudo e instrução intelectual de uma família maior a tolerância com a diversidade. Ser gay na periferia é muito mais difícil pela falta de conhecimento que as pessoas têm.

Segundo o Censo de 2010 há mais gays vivendo na periferia de São Paulo do que em áreas ricas da cidade. Este é um dado que chama a atenção e que mostra a necessidade de se olhar mais para a defesa dos direitos de LGBT's nas periferias. O mapa abaixo mostra a concentração de gays na cidade de São Paulo.

Imagem: Folha de S. Paulo
É necessário dar uma visibilidade maior aos gays da periferia.

O documentário "Economicamente Gay" é, segundo descrito no canal do YouTube de Átomo Multimídia, um polêmico documentário produzido e idealizado por Adriano Alves, um jovem de 20 anos do Jardim São Luiz, periferia de São Paulo. Neste filme ele aborda a questão da homossexualidade na periferia em contraste com os gays da classe média ou alta.


Longe da mídia e dos jovens da classe média existe um mundo cruel para os gays: o mundo da periferia das grandes cidades. Mas com ações concretas de grupos gays militantes e pressão junto ao governo poderemos ter um futuro de maior tolerância.

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