sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Meu filho é gay: e agora?

Dicas ajudam você a superar seus próprios preconceitos e entender que seu filho precisa de você agora mais do que nunca.

Vladimir Maluf

É verdade: nenhum pai sonha em ter um filho homossexual. Mas também é verdade que filho não veio ao mundo para realizar os sonhos dos pais. Portanto, aceitar e aprender a lidar com a situação é a melhor – e única – maneira de manter uma boa relação com ele. E o que muitos pais esquecem é que, com a descoberta da homossexualidade, a angústia do filho é gigantesca e avassaladora. E ele precisa de ajuda.

Claudio Picazio, psicólogo especializado em sexologia, sabe que não é fácil, mas afirma que é preciso mudar a maneira de pensar. “Antes de ter um filho, o casal projeta uma história, imagina um destino para esse filho. E nunca se leva em conta que ele possa ser gay, mas pode”, diz o psicólogo. “Eles têm a fantasia de que se tiverem uma filha, ela será uma santa; se tiverem um filho, ele será o garanhão. E nem sempre é assim”.


Os pais erraram?

Não. É comum os pais se perguntarem, logo quando descobrem a sexualidade do filho, “onde foi que eu errei?”. Um engano. “Os pais não determinam a sexualidade do filho. O que eles determinam é como seus filhos vão levar sua vida amorosa”, explica Claudio, que aconselha a instruir os filhos a terem bom caráter, seja lá com quem irão se relacionar.

Só se usa a palavra opção quando há uma chance de escolha. E não é o caso. “Se eu gosto de quindim e brigadeiro, e só posso comprar um deles, eu tenho que fazer uma opção: escolher um doce. Se as alternativas são lasanha e dobradinha, para mim, que odeio dobradinha, não há opção. Pois eu só gosto de um dos pratos”, associa o psicólogo.

“A pessoa não escolhe. E não há explicação para o desejo erótico”. E aquela teoria de que o certo é o homem se atrair por uma mulher, por uma questão de reprodução, é uma besteira. “Nenhum homem olha uma gostosa na rua e diz: ‘quero ter um filho com ela’, certo?”.

Novos sonhos

Se seu sonho era que seu filho casasse com uma mulher e lhe desse netos, aceite, eles não serão realizados. E você não pode cobrar isso. “O pai terá que readaptar seus sonhos. E perceber que não importa com quem ele se relaciona. Deve amar seus filhos de qualquer jeito, independentemente se ele é heterossexual ou não”, defende Claudio.

Claudio Picazio se recorda de uma atitude que ele considera perfeita, vinda de pais que têm um filho gay: “Em 25 anos de profissão, só vi um caso realmente saudável nessa situação: os pais perceberam que o filho era gay e vieram me procurar para livrar-se do preconceito que eles tinham”.

Por isso, se for seu caso, procure enxergar as coisas de uma outra maneira. “São os pais que devem consolar o filho. E não ao contrário. Eles precisam dar suporte a esse filho que está vivendo a angústia de descobrir que é homossexual. E não esperar que os filhos lhe amparem. Essa obrigação é dos pais”, afirma.

Vença seus preconceitos

Dizer que o filho gay é aquele que foi mimado pela mãe ou teve o pai ausente é outro erro. “Isso é uma bobagem. O que costuma acontecer é exatamente o oposto: Eles descobrem que o filho é gay. O pai, que não se identifica, se afasta. A mãe, para tentar compensar, superprotege. E daí surgiu esse mito”, esclarece Claudio.

Não tocar no assunto é outra postura comum. “Os homens, principalmente, não falam sobre o assunto. Não querem trazer à tona que o filho é homossexual. E isso é muito ruim para as relações familiares”, diz o psicólogo, que desmascara uma forma de fuga: “Não adianta dar a desculpa de que respeita a individualidade do filho e por isso não mexe no assunto. Isso é mentira. Encare a situação!”, aconselha.

Ser homossexual não exige tratamento. Mas ser preconceituoso, sim. “É preciso tratar o preconceito. Os pais têm que segurar a barra do filho, por isso, para facilitar a aceitação, eu aconselho que eles procurem um terapeuta especializado em sexualidade”, indica.

Aconteceu comigo

Luciano prefere não revelar o nome para preservar o filho. Mas diz com toda certeza que não tem problema nenhum com isso. “Meu medo é que meu filho sofra na rua, com a violência que existe por aí, inclusive contra homossexuais”, conta ele, que tem 53 anos. “Se eu disser que fiquei feliz quando soube, estaria mentindo. Não era o que eu queria para o meu filho. Minha primeira providência foi conversar com a mãe dele, que já sabia”. Foi difícil, ainda mais porque já eram separados.

“Mas ela tinha a cabeça muito mais aberta do que a minha na época e me fez enxergar que meu filho não deixou de ser a mesma pessoa que eu tanto amo e nada ia mudar”, conta ele. “Já conheci um namorado dele e foi estranho. Mas é lógico que eles me respeitam e não fazem nada na minha frente. Mas, se você parar para pensar, seria estranho do mesmo jeito se eu visse a minha filha, que é heterossexual, se agarrando com um rapaz na minha frente”.

Julio* não teve a mesma sorte com seu pai, que pediu a ele que saísse de casa. “Meu pai falou aquela velha frase que todo ignorante fala: que prefere filho morto a filho gay. Tenho 27 anos, sou independente e ajudo meus pais financeiramente. Claro que se eu me formei foi graças a eles. Eu reconheço isso. Mas se eles precisarem um dia morar comigo, não vou abrir as portas”, diz.

“Foram eles que me expulsaram, pois não queriam conviver com um gay, não é? Então, se um dia precisarem, terão que assumir a consequência da postura que tiveram no passado. Não dá para aceitar que eles passem a fingir que me aceitam só para ter o que precisam”.

* O nome foi alterado a pedido do entrevistado.

FONTE: iG Estilo

Nenhum comentário:

Postar um comentário