terça-feira, 11 de setembro de 2012

O tratamento da Congregação Cristã no Brasil aos Gays e as cartas do Apóstolo Paulo

No texto Como a bíblia aborda a questão da homossexualidade? citei os trechos das cartas (epístolas) de Paulo que assolam muitos cristãos gays. São muitas as pregações que ouço na Congregação Cristã no Brasil (CCB) condenando a homossexualidade, com base nas cartas do apóstolo. Os pregadores variam na abordagem do tema: uns dizem que é um espírito malígno que toma a juventude e expulsam tais espíritos com veemência ali mesmo na pregação da Palavra, outros dizem que os pais são culpados por não cuidarem dos filhos e outros ainda ridicularizam a situação imitando trejeitos e afinando a voz. A maioria dessas pregações acontecem nas Reuniões de Mocidade. Há também aqueles que evitam o assunto.

Vista interior da Congregação no bairro do Brás em São Paulo - sede da igreja

A Reunião de Mocidade é um ajuntamento de jovens que acontece periodicamente na maioria das cidades que possuem igrejas da CCB e é presidida por um ancião, que é o cargo máximo no ministério da igreja. O objetivo é instruir a mocidade quanto às Sagradas Escrituras e doutrina da igreja além de servir de oportunidade para os jovens se conhecerem após a reunião e a partir daí iniciarem namoro, com a finalidade do casamento. Porém existe um detalhe nas reuniões: os jovens não podem fazer perguntas e muito menos discordar do ancião quando estes estão dando "conselhos" à mocidade.

Parte do ministério da Congregação (anciães e alguns diáconos) reune-se anualmente, em Assembleia, na sede da igreja que fica na cidade de São Paulo no bairro do Brás, onde são apresentados os Tópicos de Ensinamentos que deverão ser seguidos e respeitados por todos os templos da igreja. Tratam de questões doutrinárias, administrativas e também da Obra da Piedade, que visa o atendimento às pessoas necessitadas da igreja.

Na 76a. Assembleia, ocorrida de 19 a 23 de abril de 2011, o tópico de ensinamento de número 19 trata das perguntas dos jovens nas Reuniões de Mocidade:

"O Ancião que preside não deve abrir a liberdade para se fazerem perguntas na reunião da mocidade. Deve-se exortar a irmandade a ler a Bíblia para conhecer melhor a Palavra de Deus".

Não sei ao certo o que está por trás desse tópico direcionado ao ministério, confesso. Já passou pela minha cabeça que muitos anciães por não estarem preparados para abordar determinados assuntos, ao tentarem fazê-lo ficaram constrangidos uma vez estabelecida a liberdade do diálogo aberto (jovem e ancião), já que alguns jovens poderiam replicar suas respostas. Também pensei que é muito mais cômodo ao ministério receber jovens calados, que não podem expor suas dúvidas, e assim repassar seus conselhos sem grande dificuldade, formada assim uma comunicação de único sentido: do ministério à mocidade. Também é muito comum ouvir as palavras "Deus manda te falar", "Não é o homem quem fala, mas Deus" dentre outras que retiram de si a possibilidade da explicação e a colocam em Deus: "Isto é assim porque Deus quer assim".

Dessa forma o ministério foge do embate em questões polêmicas, como a homossexualidade, sexo antes do casamento e casamentos com pessoas não pertencentes à Congregação Cristã no Brasil, por exemplo.
Como fica o moço ou a moça que está ali na igreja, confuso com suas "descobertas", sentindo-se mal muitas das vezes porque foi preparado desde criança para uma vida de comportamento heterossexual? Recordam da época em que eram crianças, apegadas aos Auxiliares e ao Cooperador de Jovens e Menores, cuja felicidade nas Reuniões de Jovens e Menores era decorar o recitativo e cantar o hino 441: "Eu sou um cordeirinho, Jesus é meu pastor, sou um feliz menino nos braços do Senhor..."

Também recordam das pregações em que seriam Encarregados de Orquestra, Cooperadores, Anciães ou no caso das moças, Organistas, Examinadoras ou da Obra da Piedade. Se entristecem pois fica cada vez mais distante o cumprimento de tais "profecias" à medida que vão descobrindo em si a homossexualidade. A maioria dos casos é agravada quando a família percebe, principalmente se a família for da CCB. Pais preferindo chorar no funeral do filho ou filha antes que os mesmos percam a "graça" de Deus (ou seja, se tornem pecadores para a Congregação Cristã no Brasil), pregações ameaçadoras, como "antes que você perca a graça de Deus, o Senhor te recolherá" e testemunhos de casos que confirmam a pregação. Irmãos fazendo visitas constantes, pregando aos jovens que deixem as coisas imundas, que o espírito malígno quer levar o jovem à prostituição etc. Isso simplesmente porque tal jovem descobre que é gay. A confusão está posta! O próximo passo é a crise, muitas orações, pedindo que Deus os liberte desse "fardo", que prepare casamento, que passe a gostar de mulher (no caso do moço gay) ou a gostar de homem (no caso da moça gay). Alguns sob grande pressão, casam para satisfazer os pais e a igreja, se tornam pessoas infelizes, incompletas, vivendo algo que lhes não é verdadeiro, abafando seus sentimentos. O ministério trata de vários casos de separação de casais devido à homossexualidade.

Existem jovens que se aceitam e param de congregar, se distanciam da igreja e das amizades feitas ao longo de anos e outros que continuam congregando. A estes está reservada a exclusão. Os irmãos, a mocidade e o ministério passam a vê-los como "pecadores". Não continuam com a liberdade que tinham na igreja, se forem músicos não podem mais tocar na orquestra, se forem Auxiliares de Jovens e Menores não podem mais exercer o cargo, começam a ser deixados de lado nas visitas, excursões para participar de Reuniões em outras cidades etc. São poucos os casos que conheço de jovens nessa situação que continuam firmes na igreja. E além disso tudo, se já não bastasse, começam a ser atacados nas pregações. As cartas do apóstolo Paulo são as preferidas nesse aspecto.

A saída para muitos jovens é permanecer "no armário", assim evitam as censuras descritas acima. Mas mesmo assim são cobrados à respeito do casamento, a idade vai chegando e se passarem dos 30 anos acabam sendo motivo de piadas para alguns. São os "solteirões" ou as "solteironas". Uns se apoiam na desculpa dos estudos ou da dedicação exclusiva às "coisas" de Deus para se justificarem. Nada é simples... É completamente horrível manter certas aparências e ter uma vida dupla para satisfazer vontades alheias à sua verdadeira felicidade, que é a aceitação e o encontro consigo mesmo.
Para todas as coisas que a Congregação condena, principalmente os "pecados de morte", busca-se uma justificativa na bíblia para tal. O caso da homossexualidade também é justificado citando-se as cartas do apóstolo Paulo. Mas o que realmente Paulo disse? O que de fato ele condenou? Para entender estas questões temos que conhecer um pouco sobre a sociedade da época.

Inicio destacando que algumas vezes o apóstolo Paulo dizia "este é o meu parecer" sobre determinada questão, ou seja, o seu modo humano de entender certas coisas, não recomendando que se tomassem tais questões como decisões divinas finais - simplesmente era a sua impressão, que poderia ou não estar de acordo com os desígnios de Deus.

Paulo passou sua juventude na cidade de Tarso, que no primeiro século era a principal cidade da província da Cilícia na parte oriental da Ásia Menor. Ele nos diz um pouco sobre sua identidade:

"Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia" (Atos 21:39)

O general romano Marco Antonio concedeu a Tarso em 42 a.C. o privilégio de libera civitas (cidade livre).  A foto ao lado mostra parte das ruínas da cidade atualmente. Por conseguinte, embora fizesse parte de uma província romana, era autônoma, e não estava sujeita a pagar tributo a Roma. As tradições democráticas da cidade-estado grega de longa data estavam presentes no tempo de Paulo. Era uma cidade de fronteira localizada numa encruzilhada para o comércio que fluia tanto para o leste quanto para o oeste. Uma importante estrada romana corria ao norte, fora da cidade, e através de um estreito desfiladeiro nas montanhas do Tauro, conhecido como Portas Cilicianas, onde foram travadas muitas lutas militares antigas. A cidade tinha um importante porto que dava acesso ao mar por via do rio Cnido, que passava no meio dela. Foi nesse ambiente que Paulo viveu sua juventude, cujo nome hebraico era Saulo, em homenagem ao rei Saul.

Uma das características fundamentais da sociedade romana era o seu desprezo pela questão da identidade sexual. Tudo poderia ser revertido, de forma obstinada e compulsiva para uma pluralidade descontrolada de atos sexuais, muitas vezes desumanos e perversos. Um dos personagens mais famosos daquela época era o imperador Calígula, soberano de Roma exatamente na época em que Paulo escreveu a epístola Aos Romanos.

Caio Júlio César Augusto Germânico, também conhecido como Calígula (busto à esquerda) foi um imperador romano de 37 a 41 d.C. ano em que foi assassinado pela guarda pretoriana (força militar romana criada para guardar o imperador e seus familiares) aos 28 anos. Segundo historiadores, começou seu governo de forma liberal. Cidadãos romanos chegaram a pensar que estavam no início de uma era feliz. Mas o imperador adoeceu devido aos seus excessos e orgias e, quando se recuperou, revelou sua maldade. Gastos exorbitantes, impostos altíssimos e total falta de freio marcaram o resto de seu reinado. Sua crueldade com os presos e escravos era tão grande quanto a sua depravação na vida sexual. Divertia-se fazendo torturar condenados na frente de seus familiares, tomava a posse de suas vítimas e não admitia ser contrariado em nada. Mantinha uma casa de prostituição e ordenou que estátuas suas fossem colocadas em lugares de destaque em todos os templos, até nas sinagogas em Jerusalém. Assim, entrou em conflito com os judeus, que não aceitaram esse desejo do imperador, que queria ser adorado como um deus. Nomeou como senador romano seu cavalo, Incitatus, para quem construiu um palácio de mármore. Antes disso havia nomeado seu cavalo como sacerdote e designado uma guarda pretoriana para tomar conta de seu sono. Sua ideia era humilhar o Senado romano e mostrar que, se podia nomear um cavalo como sacerdote e senador, podia fazer qualquer coisa com a vida de qualquer pessoa. Os soldados apoiavam todas as loucuras do imperador. Por duas vezes Calígula escapou de atentados à sua vida, pois era odiado pelo povo. Mas foram os oficiais de sua guarda que, aterrorizados e fartos, decidiram acabar com seu governo desvairado. Numa conspiração que reuniu a guarda e senadores, o imperador foi assassinado num túnel que ligava o Palácio ao Fórum.

Observe o que Paulo escreveu aos romanos na época do imperador Calígula, sobre a idolatria e a depravação dos gentios na carta Aos Romanos, capítulo 1, verso 18:

"Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detém a verdade em injustiça".

E continua nos versos de 21 a 25:

"Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a gloria do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Pelo que também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si, pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente".

 

Também viveu Paulo na época de Satíricon, uma obra da literatura latina de autoria do prosador romano Petrônio, escrita por volta do ano 60 d.C. que descreve as aventuras e desventuras do narrador, Encólpio, do seu amante Ascilto e do belíssimo servo, o jovem Gitão, que se intromete entre os dois amantes, provocando ciúme e discussão. Juntamente com o poeta Eumolpo, embarcam em aventuras diversas acabando naufragado nas mãos de Circe, uma sacerdotisa do deus Príapo. Satíricon é um dos mais antigos romances conhecidos.  Pode-se considerar como uma sátira - uma grande crítica aos costumes e à política da Roma antiga. Os episódios narrados estão em sintonia: passagens cômicas são intercaladas com outras trágicas de forma natural e harmônica. O narrador parte do retrato puramente zombeteiro da cena para narrar uma desgraça, articulando-se por meio de expressões solenes, artifícios retóricos, da mesma forma que se apresentam palavras do idioma popular, às vezes vulgares demais. Passagens maliciosas, baixas, descritas e acobertadas por um fantástico domínio da arte retórica por parte de Encólpio, o narrador-personagem, que se mantém ao mesmo tempo fiel e avesso à retórica.

E o que dizer ainda de Nero? Nero (busto à esquerda) foi um imperador romano que governou de 54 d.C. até sua morte em 68 d.C. Seu reinado é associado à tirania e extravagância. É recordado por uma série de execuções sistemáticas, incluindo a da sua própria mãe e o seu meio-irmão Britânico, e sobretudo pela crença generalizada de que, enquanto Roma ardia em chamas, ele estaria compondo com a sua lira, além de ser um implacável perseguidor dos cristãos.

Historiadores apontam para aspectos do mundo romano bastante marcantes de seu tempo: a indiferença à questão da natureza sexual dos cidadãos das grandes cidades, o apego cada vez maior aos cultos de fertilidade vindo das províncias orientais do Império, a criação e educação de adolescentes pelo próprio aparelho do Estado, distante de suas famílias. Neste último caso pode-se observar ainda a prática, de origem grega, do relacionamento sexual entre rapazes mais jovens e homens mais velhos, independente de suas orientações sexuais. Em determinada fase da vida, os homens até se casavam com mulher, todavia, o sexo entre homens era motivo de honra e dignidade aristocrática, já que as mulheres ocupavam socialmente a periferia das relações sociais, sendo terrivelmente marginalizadas e muitas vezes consideradas apropriadas exclusivamente para fins de procriação.

Desse modo, podemos observar duas coisas da sociedade romana que Paulo testemunhou e na qual de uma certa forma viveu, a despeito de sua formação judaica: a misoginia (desprezo ou aversão às mulheres) e o abuso.

Ainda no capítulo 1 da carta Aos Romanos, Paulo discorre mais sobre os gentios, nos versos 26 e 27:

"Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro".

Pode-se interpretar desses versos que o abandono do "uso natural" era o abandono do prazer natural em troca de uma vida de prática sexual desumanizada, que não provém de um gesto de amor, de complemento, de carinho, de unidade, mas "contrários à natureza".

A relação entre pessoas do mesmo sexo nesta época era absurdamente assimétrica, ou seja, desigual e injusta. Não há dúvidas que essas práticas em suas versões perversas era contra a natureza que descreve Paulo.

A condenação de Paulo na carta Aos Romanos era a condenação da experimentação de formas sexuais extravagantes e desrespeitosas, independente da sexualidade das pessoas.

Com relação à primeira carta de Paulo Aos Coríntios, o verso 10 do capítulo 6 diz o seguinte:

"Não erreis; nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os afeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus".

E a primeira carta de Paulo A Timóteo, capítulo 1, versos 9 e 10:

"Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas, e matricidas, para os homicidas, para os fornicários, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina".

Esta é a versão da bíblia traduzida para o português pelo padre João Ferreira de Almeida e que a Congregação Cristã no Brasil adota. É interessante notar o que diz um dos Tópicos de Ensinamentos para a igreja no ano de 1962, a respeito de um pleito da CCB junto à Sociedade Bíblica do Brasil:

"Foi relatado os resultados de uma missão junto a Sociedade Bíblica do Brasil sobre o caso das Bíblias novas editadas por essa Sociedade. Estas Bíblias são da edição originada de uma versão e revisão das Bíblias do padre João Ferreira de Almeida e Grega. A comissão que trabalha nesta versão empregou termos atualizados populares da língua portuguesa do Brasil, entretanto essa adaptação prejudicou um pouco o sentido e principalmente alterou a forma com a qual nossa irmandade está habituada. Sentiram-se os servos de Deus em oração de enviarem alguns irmãos ao Rio de Janeiro em Junho do ano passado. Lá foram muito bem recebidos pela diretoria da Sociedade Bíblica e Deus preparou de serem atendidos no que foram solicitar. Bíblias impressas pela versão antiga de Almeida. Sendo assim em Maio do corrente ano esperamos ter essas Bíblias na nossa disposição conforme prometeram. Oremos para essas pessoas para que Deus as abençoe nesse serviço de distribuição das Escrituras, já que nesta contingência as evidências e maneira gloriosa pela qual Deus guiou aos seus servos, há alguns anos atrás ao lhes fazer sentir que deveria a Congregação contribuir para auxiliar a Sociedade Bíblica. Assim sendo a Congregação a maior contribuinte e a maior consumidora de Bíblias, tivemos força moral para expormos nossa opinião sobre o caso das Bíblias novas e Deus nos deu plena vitória".

Já em 1964, o assunto retorna aos Tópicos de Ensinamentos, com as seguintes ponderações:

"Já há alguns anos que esta Congregação vem colaborando com a Sociedade Bíblica, enviando donativos anuais, fruto de coletas realizadas entre toda a nossa irmandade no Brasil. Isto Deus nos fez sentir em fazer em virtude do preço das Bíblias no geral, ser inferior ao seu valor de custo e a Sociedade nessas condições necessita de contribuições para poder produzi-las. As Bíblias não dão lucro; assim é em quase todo o mundo. Entretanto ultimamente a Sociedade Bíblica do Brasil editou uma versão de João Ferreira de Almeida corrigida e revisada que foi profundamente alterada, a ponto de ferir a Sã Doutrina. Inúmeros pontos estão completamente modificados; assim não a podemos aceitar e nem adotarmos para o uso de nossa irmandade. Tem sido feito confronto entre a velha versão e a nova, encontrando-se muitos erros de doutrina na nova, pois esta foi modificada pelos homens. Existe uma lista bem grande de erros encontrados. Dada essa situação esperamos na Guia do Senhor quanto às contribuições daqui para o futuro; devendo a irmandade esperar orientação quanto ao que convém fazer".

A Congregação afirma que a nova versão questionada fere seus pontos de doutrina e que a mesma foi modificada pelos homens. Mas a tradução adotada pela CCB também não foi traduzida por homens? E se conhecermos um pouco mais das questões da tradução para o português, da bíblia que a CCB adota, vemos que ela não é fiel aos escritos originais.

Na passagem bíblica citada anteriormente (primeira carta de Paulo aos Coríntios e a Timóteo), temos dois termos que chamam a atenção. O primeiro, "malakoi", foi traduzido pela versão de Almeida, da bíblia em português, como "afeminados" e o segundo, na mesma versão, "arsenokoitai", como "sodomitas". Duas palavras equivocadamente traduzidas, em uma clara operação de adulteração das Sagradas Escrituras.

Também, existem duas versões da bíblia que fazem traduções para estas duas palavras. Tratam-se da Bíblia na Linguagem de Hoje que traduz "malakoi" como "adúlteros" e "arsenokoitai" como "homossexuais". Já a Nova Versão Internacional traduz "malakoi" e "arsenokoitai" como "homossexuais ativos" e "homossexuais passivos" respectivamente, o que configura um exercício semântico criminoso e abusivo, ressaltando que estas são as versões da bíblia preferidas dos homofóbicos religiosos.

Para esclarecermos estas dúvidas precisamos estudar os textos bíblicos em seus idiomas originais. É fácil comprar em qualquer loja de artigos bíblicos, uma versão original da bíblia, do Novo Testamento em grego e verificar estas palavras. Com o auxílio de um dicionário, podemos consultar as raízes das palavras no grego e constatar sua verdadeira tradução.

Estas duas palavras podem, de acordo com o contexto em que são utilizadas, ter mais de um significado. Mas, esteja certo que jamais terão qualquer sentido real aplicado ao termo "homossexual". Neste sentido elas jamais se aplicarão a um relacionamento de amor e fidelidade entre duas pessoas do mesmo sexo.

O termo grego "malakoi" literalmente pode ser traduzido como "mole". E dentro daquela cultura misógina do primeiro século, podemos dizer que uma associação com a feminilidade era vista como negativa em termos morais. Assim, "mole" poderia ser uma descrição de qualquer tipo de comportamento de vaidade exacerbada ou fraqueza de caráter. Um outro sentido para esta palavra poderia ser a referência à prostituição cúltica masculina, que também era muito forte na época e na cultura romana.

O termo "arsenokoitai" que foi traduzido como "sodomita" na versão de Almeida, só passou a se referir à prática homossexual na Alta Idade Média. Provavelmente, alguns homossexuais poderiam estar incomodando alguns religiosos que não entendiam o que era de fato ser homossexual!

"Arsenokoitai" consiste em uma palavra de significado por demais obscuro, lembrando que é grande a quantidade de termos e palavras no grego clássico que significavam "comportamento homossexual". É preciso lembrar ainda que o apóstolo Paulo não utilizou nenhuma delas, de onde podemos concluir que ele se referia realmente a algo muito específico.

Etimologicamente, podemos dizer que o radical linguístico "arsen", quer dizer "macho" e "koitos", quer dizer "cama". Este termo não possui nenhum registro na literatura grega antes de ser utilizado pelo apóstolo Paulo. Isto parece ser, portanto, um neologismo do próprio Paulo, elaborado na composição da epístola. Como o significado original deste neologismo pode ter se perdido no tempo, isto favorece interpretações grosseiras, sendo esta a palavra predileta para o arsenal homofóbico e tendencioso. No passado esta palavra antes de "sodomita" foi usada como "masturbadores" por algumas traduções bíblicas.

Por outro lado, é bom sabermos que nem tudo está perdido, pois hoje temos algumas traduções bíblicas, mais fiéis aos textos no idioma original. Em português, temos a Bíblia de Jerusalém que é atualmente a melhor tradução das Sagradas Escrituras no mundo, onde teólogos judeus, cristãos e protestantes traduziram do hebraico, aramaico e grego para o francês sem intermediações pretensamente tradutológicas que acarretariam em qualquer distorção. Assim, se quisermos uma tradução mais fiel podemos recorrer à Bíblia de Jerusalém. As palavras que mencionamos de I Coríntios 6:10 foram traduzidas pela Bíblia de Jerusalém da seguinte forma: "malakoi" como "depravados" e "arsenokoitai" como "pessoas de costumes infames". Já em I Timóteo 1:10 a palavra "arsenokoitai" se repete e veio na versão da Bíblia de Jerusalém como "adultos que fazem sexo com crianças".

Ainda que a Congregação Cristã no Brasil e outras igrejas cristãs desprezem tais argumentos e interpretações, e continuem a discriminar, sufocar e ignorar os seus membros que pela sua natureza são gays, como a igreja explica então a atitude de Paulo para com as mulheres? Na própria tradução de Almeida, nota-se um certo desprezo de Paulo para com elas:

"As mulheres estejam caladas nas igrejas, porque lhes não é permitido falar, mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos, porque é indecente que as mulheres falem na igreja" (I Aos Coríntios, 14:34-35).

"Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio" (I A Timóteo, 2:12).

Não parecem contraditórias as posições da CCB quanto ao escrito em casos distintos pelo mesmo apóstolo Paulo? Não há oposição ao direito e espaço conquistado pelas mulheres atualmente (graças a Deus!) porém há grande batalha contra os direitos dos gays.

Felizmente existem religiosos em todas as partes defendendo o direito das mulheres. Já quanto aos gays isso não ocorre dada a dificuldade dos mesmos em lidar com as possíveis traduções tendenciosas dos textos originais das Sagradas Escrituras. É preciso muito discernimento e sabedoria para estar diante de uma multidão de pessoas, aconselhando-as e pregando em nome de Deus e do Senhor Jesus.
Pode uma pessoa pecar contra Deus pela sua simples existência? Ser gay não é escolha, assim como não ser também não é. Não conheço ninguém que tivesse o poder de escolher a sua sexualidade. Se não é uma questão de escolha por que então os mesmos estão pecando contra Deus? Ter uma vida digna, de retidão e respeito com Deus isto sim é escolha. As pessoas não pecam pela sua sexualidade e sim pelos abusos que cometem e os desrespeitos.

Ao que me lembro, o grande de todos os mandamentos é amar ao próximo como a nós mesmos. O apóstolo Paulo em sua carta Aos Romanos, capítulo 13, verso 8, confirma isto:

"A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros: porque quem ama aos outros cumpriu a lei".

Quem deveria acolher faz o contrário. Pouco respeito ou quase nenhum há pelos gays que estão na CCB. Muitos são de famílias de ministério, "nascidos na graça" (ou seja, as famílias já eram da CCB quando nasceram), de bom testemunho e necessitados de acolhimento, mas ao invés disto são desprezados. O ministério não tem feito questão de dialogar com tais jovens e quando procurados pelos mesmos jovens que são desprezados nas congregações, os ignoram.

[Consultei o livro A bíblia sem preconceitos, para descrever alguns fatos com relação ao Apóstolo Paulo]

12 comentários:

  1. Clayton, como você disse, a Palavra de Deus deve ser lida não somente com a razão mas, também (e principalmente) com o sentimento. Entendo que é por isso que se lermos a mesma passagem em momentos diferentes, entenderemos de formas diferentes. Como disse o apóstolo Paulo em sua 2a. epístola aos Coríntios (justamente os gregos racionais): "a letra mata, mas o espírito vivifica". Quando eu abro a Bíblia, eu encontro o que desejo; se o meu coração está com o Cristo, eu encontro as respostas para as minhas aflições; se eu destilo o egoísmo, o preconceito e a vaidade, encontrarei justificativas para os meus desvios, embora contrárias à Doutrina do Cristo. Você foi muito feliz em suas colocações. O preconceito está em meu coração e não na Palavra de Deus. Forte abraço e vamos divulgar os ensinamentos de Jesus. Fred

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    1. Fred, você sintetizou de uma forma brilhante o texto. Um comentário lúcido e que colabora muito com a mensagem que tentei passar. De fato, se lermos a mesma passagem em momentos diferentes poderemos entender de forma diferente, pois está embutido aí o sentimento. O preconceito está no coração humano e não na Palavra de Deus.

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    2. Boa noite amigo...dentro do MINISTÉRIO CCB tem muitos gays, enrustidos, que estão a frente da IGREJA por interesses FINANCEIROS, apenas isso...forte abraço.

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  2. Olá Clayton, A paz de Deus.

    Fico muito contente em encontrar irmãos com uma sabedoria excelente, vinda de Deus, como a sua. Noto que, a cada dia, a quantidade de irmãos/irmãs esclarecidos sobre os temas "atuais" aumenta - creio que em parte pelo aumento da escolaridade - e tenho fé no decréscimo da ignorância com que questões, como a homossexualidade, são tratados.
    Através de suas outras postagens, pode-se perceber que, apesar do sentimento homossexual, Deus sempre te "exaltou", te dispensando dons e cargos. Creio que alguém "amaldiçoado", como muitos insistem em julgar os homossexuais, não seria escolhido por Deus para responsabilidades em Sua casa. Conheço muitos irmãos e irmãs que passaram situações semelhantes, e eu, como irmã e homossexual, sei que não é algo que escolhi, algo que possa mudar. Já pedi veementemente a Deus que me libertasse, durante meus 10 anos de batizada (continuo pedindo), porém não encontro libertação.Também, já não sinto também como algo do qual eu precise de libertação.
    Continuo porém, seguindo anonimamente. Ainda não me relacionei com ninguém, apesar de ter tido contatos virtuais, e etc. Sigo a doutrina e tento me manter integra ao que acredito e ao que Deus me esclarece. Porém, gosto muito de ler opiniões que, como a sua, me dão conforto e me auxiliam no esclarecimento do futuro. Creio que ajudam também a muitas outras pessoas, que não tem um apoio dentro da igreja. Conheço pessoas que sofrem, por não poderem manifestar seus sentimentos, sob olhares desconfiados de cooperadores e boatos e outros irmãos. Como bem dito em algum ponto de seus textos, Jesus nunca nos deu nenhum ensinamento diferente de amor. Tento olhar a isso todos os dias.
    Gostaria mesmo de contato com vocês, se possível. Seria bom trocar idéias entre pessoas como nós (me sinto um ET com essa frase rs).
    Se houver alguma forma de contato, ficarei feliz em saber.

    Deus abençoe a todos!

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    1. Olá! Amém.... Como você comentou, o nível de escolaridade em parte pode ajudar, mas quando a pessoa já possui certa disposição para respeitar as diferenças. Algumas pessoas pensam ou já pensaram, como você, que podem deixar de ser gay e eu sempre torço para que se encontrem e sejam felizes. A aceitação própria é o primeiro passo para ser feliz... Eu acredito muito no amor e respeito ao próximo e isso me dá forças para escrever. Sei que na igreja existe muitos gays e muitos deles se sentem desamparados... Eu quis olhar para eles e tentar de alguma forma dizer que Deus os ama! Você foi uma das primeiras moças que escreveram aqui, se não estou enganado... Fiquei feliz pelo comentário!

      Pode entrar em contato comigo pelo e-mail claedu@gmail.com, pelas redes sociais indicadas na aba "O autor" ou ainda pela aba "Contato".

      Um abraço.

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  3. Oh irmã a Paz de Deus! Quantos anos a irmã tem? desculpe a pergunta. Caso queira conversar comigo, sou irmão, nessa mesma prova que a sua, queria conhecer uma irmã mesmo que aqui na net pra trocar idéias, com respeito. Caso queira entrar em contato meu e-mail aqui é crentesolitario@gmail.com

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  4. Estimado irmão Clayton,

    Apenas para acrescentar: historiadores e outros estudiosos mencionam a existência, nas sociedades greco-romanas da época de Paulo, de populares cultos a deusas como Cibele, Ísis e Bona Dea. Segundo o historiador Burgo Partridge, o culto a Cibele envolvia, além de batismo em sangue de animais, a mutilação genital de seus sacerdotes. O culto a Ísis envolveria a prática sexual das mulheres com qualquer homem que fosse ao templo. E o culto a Bona Dea, o mais alucinado e destinado exclusivamente a mulheres, envolvia o uso de objetos fálicos e o ato sexual com animais ("bestialismo")... Para um conhecedor da Bíblia, torna-se plausível que fosse a este último caso que Paulo se referia quando diz "Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza" (Romanos 1:26). Esta hipótese é confirmada por alguns estudiosos que afirmam que o termo usado como "natureza" se referiria a algo que fosse "da mesma espécie" (no caso, humana).

    Marcelo E.

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    1. Completando meu comentário anterior:

      Assim sendo, não há nos textos bíblicos NENHUM trecho que condene explicitamente o sentimento de amor homossexual entre duas mulheres, nem mesmo a prática do ato em si entre duas mulheres.

      Marcelo E.

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    2. Marcelo,

      Suas valiosas observações históricas vem reforçar mais ainda a tese de que não há condenação divina quanto à sexualidade das pessoas.

      Abraço.

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  5. A paz de Deus!

    Parabéns pela clareza e estrutura do assunto abordado aqui. Eu acho que amigos nessa hora que estão passando pela mesma situação ajuda muito a entender esse turbilhão de sentimentos que passa dentro de nós, acho que se eu tivesse um suporte desse tipo na época em que resolvi sair da igreja, abandonar ministério para ser eu mesmo, acho seria menos sofrido. Hoje eu estou bem, bem resolvido comigo mesmo e continuo seguindo em frente, mas foi uma mudança que não aconteceu da noite para a o dia. O homossexualismo existe desde que o mundo é mundo, por que a bíblia condena como tal? Me questionava muito isso, por que devo ser punido por algo que não é culpa minha, não tenho culpa de ter nascido assim, tenho que abrir mão da minha natureza, do meu verdadeiro eu se eu quiser continua na igreja? Hoje eu entendo que não tem nada errado comigo, que o errado são as pessoas que não tem capacidade de enxergar o que esta na sua frente nem de entender e nem de conviver com as diferenças. As vezes fico meio com o coração apertado quando leio que pessoas estão passando pela mesma situação que eu passei um dia, o que eu tenho a dizer é: tudo vai dar certo e você não esta sozinho!!

    Deus abençoe a todos!!

    Grande Abraço.

    MF

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  6. Apdd
    Quero fazer amizades para congregar
    meu whats 11953624810
    somente me add , irmãos gay da congregação

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    1. Me adiciona no Skype souauxiliar e sou gay Skype: luizmertz@hotmail.com

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