segunda-feira, 29 de abril de 2013

Nada contra, se não é em casa. Ou: enrustido é o preconceito!

Outro dia saí com um amigo e sua esposa. Andávamos por um parque, conversando. De repente surgiu o assunto homossexualidade ao observar algumas pessoas que caminhavam por ali. "Casal gay com filhos?" - indagou a esposa de meu amigo, num ar de espanto. Minha resposta foi natural e imediata: "Sim". Notoriamente ela estava incomodada em como se daria a "educação" da criança. Confesso que, por alguns segundos, pensei em não entrar neste debate, dada a natureza tão sem sentido das ideias dela. Claro que ela tem o direito de pensar de acordo com suas referências e de manifestar sua opinião, isto é garantido pela nossa Constituição e, ainda que não fosse, dado o meu perfil, jamais subtrairia de quem quer que seja este direito. Explicarei adiante por que considerei a indagação dela sem sentido. Passei a querer ouvir as suas ideias, que se baseavam parcamente em frases do tipo "Filho de casal gay vira gay"; "É descabido uma criança ver dois homens se beijando dentro de casa"; "A formação da criança estará prejudicada". Parou aqui. Confesso que esperava mais, mas... Quando há preconceito, apenas o trabalho de ecoar frases tem seu valor!

Veja o que diz a matéria de Carol Castro na revista Super Interessante, de fevereiro de 2012, com o título "4 mitos sobre filhos de pais gays" (volto em seguida):

Mito 1 - Os filhos serão gays!

A lógica parece simples. Pais e mães gays só poderão ter filhos gays, afinal, eles vão crescer em um ambiente em que o padrão é o relacionamento homossexual, certo? Não necessariamente. (Se fosse assim, seria difícil, por exemplo, explicar como filhos gays podem nascer de casais héteros). Um estudo da Universidade Cambridge comparou filhos de mães lésbicas com filhos de mães héteros e não encontrou nenhuma diferença significativa entre os dois grupos quanto à identificação como gays. Mas isso não quer dizer que não existam algumas diferenças. As famílias homoparentais vivem num ambiente mais aberto à diversidade - e, por consequência, muito mais tolerante caso algum filho queira sair do armário ou ter experiências homossexuais. "Se você cresce com dois pais do mesmo sexo e vê amor e carinho entre eles, você não vê nada de estranho nisso", conta Arlene Lev, professora da Universidade de Albany. Mas a influência para por aí. O National Longitudinal Lesbian Family Study é uma pesquisa que analisou 84 famílias com duas mães e as comparou a um grupo semelhante de héteros. Ainda entre as meninas de famílias gays, 15,4% já experimentaram sexo com outras garotas, contra 5% das outras. Já entre meninos, houve uma tendência contrária: 5,6% nos adolescentes criados por mães lésbicas tiveram experiências sexuais com parceiros do mesmo sexo - mas menos do que os que cresceram em famílias de héteros, que chegaram a 6,6%. Ou seja, não dá para afirmar que a orientação sexual dos pais tenha o poder de definir a dos filhos.




Mito 2 - Eles precisam da figura de um pai e de uma mãe.


Filhos de gays não são os únicos que crescem sem um dos pais. Durante a 2ª Guerra Mundial, estima-se que 183 mil crianças americanas perderam os pais. No Brasil, 17,4% das famílias são formadas por mulheres solteiras com filhos. Na verdade, os papéis masculino e feminino continuam presentes como referência mesmo que não seja nos pais. "É importante que a criança tenha contato com os dois sexos. Mas pode ser alguém significativo à criança, como uma avó. Ela vai escolher essa referência, mesmo que inconscientemente", explica Mariana Farias. Se há uma diferença, ela é positiva. "Crianças criadas por gays são menos influenciadas por brincadeiras estereotipadas como masculinas ou femininas", diz Arlene Lev. Uma pesquisa feita com 56 crianças de gays e 48 filhos de héteros apontou a maior probabilidade de meninas brincarem com armas ou caminhões. Brincam sem as amarras dos estereótipos e dos preconceitos.


Mito 3 - As crianças terão problemas psicológicos por causa do preconceito!


Elas sofrerão preconceito. Mas não serão as únicas. No ambiente infantil, qualquer diferença - peso, altura, cor da pele - pode virar alvo de piadas. Não é certo, mas é comum. Uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas com quase 19 mil pessoas mostrou que 99,3% dos estudantes brasileiros têm algum tipo de preconceito. Entre as ações de bullying, a maioria atinge alunos negros e pobres. Em seguida vêm os preconceitos contra homossexuais. No caso dos filhos de casais gays analisados pelo National Longitudinal Lesbian Family Study, quase metade relatou discriminação por causa da sexualidade das mães. Por vezes, foram excluídos de atividades ou ridicularizados. Vinte e oito por cento dos relatos envolviam colegas de classe, 22% incluíam professores e outros 21% vinham dos próprios familiares. Felizmente, isso não é sentença para uma vida infeliz. Pesquisas que comparam filhos de gays com filhos de héteros mostram que os dois grupos registram níveis semelhantes de autoestima, de relações com a vida e com as perspectivas para o futuro. Da mesma forma, os índices de depressão entre pessoas criadas por gays e por héteros não é diferente.


Mito 4 - Essas crianças correm risco de sofrer abusos sexuais!


Esse mito é resquício da época em que a homossexualidade era considerada um distúrbio. Desde o século 19 até o início da década de 1970, os gays eram vistos como pervertidos, portadores de uma anomalia mental transmitida geneticamente. Foi só em 1973 que a Associação de Psiquiatria Americana retirou a homossexualidade da lista de doenças mentais. É pouquíssimo tempo para a história. O estigma de perversão, sustentado também por líderes religiosos, mantém a crença sobre o "perigo" que as crianças correm quando criadas por gays. Até hoje, as pesquisas ainda não encontraram nenhuma relação entre homossexualidade e abusos sexuais. Nenhum dos adolescentes do National Longitudinal Lesbian Family Study reportou abuso sexual ou físico. Outra pesquisa, realizada por três pediatras americanas, avaliou o caso de 269 crianças abusadas sexualmente. Apenas dois agressores eram homossexuais. A Associação de Psiquiatria Americana ainda esclarece: "Homens homossexuais não tendem a abusar mais sexualmente de crianças do que homens heterossexuais".


Voltei.


Argumentei com a esposa de meu amigo bem próximo dos 4 mitos descritos acima. Ela não se convenceu, porém se calou, como que se lhe faltasse ideias para sustentar suas palavras. Também parei por aí, minha explicação não foi confusa e não tenho a menor intenção de forçar alguém que confesse minhas ideias. Minha preleção não se dá à força.


Por fim, ela se mostrou solidária à causa gay, como que se eu precisasse naquele momento desta impressão dela. Disse que possuía vários amigos gays e que se dava muito bem com eles. Já amiga gay, pelo que ela mesma disse, apenas uma e não com um contato frequente. Ela não tem nada contra, se diverte na companhia deles, mas em sua casa, segundo suas palavras, jamais lidaria com naturalidade sobre esta questão! É neste ponto que considero sem sentido suas ideias.


A conversa finalizou com uma frase de meu amigo: "Cada um faz o que quer de sua vida". Poderia eu entrar neste particular, mas não o fiz, pois precisava ir embora. O fato é que a pessoa não é gay porque decidiu ser. "Até hoje sou hétero, amanhã serei gay". Rudimentar esta ideia. A pessoa decide assumir ou não, contar ou não. Mas a sua condição sexual não!


Já vi pessoas, ou melhor, mães, que adoravam seu cabeleireiro gay, seu amigo de trabalho gay e o Clodovil. Mas seu filho gay jamais!


Quem estaria realmente enrustido? O preconceito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário